Cinco lições que o esporte me ensinou sobre inovação

Jose Mello
O inovador brasileiro
6 min readJan 13, 2019

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Há cinco anos iniciei uma jornada como esportista amador, treinando regularmente e participando de competições. O que a prática de esportes me ensinou sobre inovação?

Sempre gostei de me movimentar. Alguma rotina diária de atividade física já fazia parte da minha vida há pelo menos uns 15 anos, mas foi em 2014 que nasceu de fato minha paixão pelo esporte. Encontrei no Crossfit e na corrida de rua minhas grandes paixões, que me levariam a acordar todos os dias as 5:30h da manhã, treinar religiosamente 7 dias por semana e me preocupar com a minha alimentação.

Ao longo desses quase 5 anos, o esporte me ensinou muita coisa sobre a vida e que se refletem no meu trabalho e na minha forma de encarar a inovação.

Aqui vão cinco lições que aprendi com o esporte:

1. Desistir nunca, render-se jamais: em uma corrida de 10km, o pior momento acontece quando você passa dos 5km. É nesse momento que a sua mente começa a te dizer que você está cansado, que está muito calor e que sua perna está doendo e você pensa que ainda tem a outra metade da prova pela frente. Mas acredite: quando você sente esses sinais de cansaço e de que não dá mais, é porque você ainda tem muita lenha para queimar! Sua mente, ao menor sinal de stress, tenta te persuadir a desistir, mas com o tempo descobri que é só a mente nos pregando uma peça. Minhas melhores performances aconteceram nos momentos em que enfrentei o cansaço e a vontade de desistir. Nesses momentos, uma energia que nem você sabia que tinha, aparece e faz com que você suporte a dor, enfrente as condições adversas para fazer o seu melhor tempo, mais uma repetição ou aguentar aqueles minutos extras. Quando se tenta inovar em grandes organizações isso também acontece. É comum termos vontade de desistir dos projetos e iniciativas quando as coisas parecem não estar dando certo ou quando temos que enfrentar alguma grande resistência interna para que um projeto siga adiante. Sempre parece mais fácil desistir e inventar uma desculpa para parar, ou colocar a culpa na empresa que é muito quadrada, ou nas pessoas a sua volta que "não entendem". Mas a verdade é que, na maioria das vezes, a culpa pelo fracasso de uma bela iniciativa de inovação está nas mãos das próprias pessoas que a criaram. Assim, aprendi que essa é a hora de correr ainda mais! Todo mundo se cansa, todo mundo enfrenta resistências. Desistir nesse momento é a certeza de fracassar depois de já ter percorrido a pior parte do caminho. Cada passo dado é um passo a menos para a linha de chegada!

2. Você nunca está pronto: a segunda coisa que aprendi com o esporte, é que você nunca está pronto. Sempre é preciso treinar mais, se preparar melhor e se dedicar mais um pouco. Isso é meio óbvio né? Mas a parte surpreendente disso é que, por exemplo, não se fica bom em levantamento de peso só levantando peso, assim como ninguém se torna um bom corredor apenas correndo. O corpo é uma maquina perfeita e precisa de estímulos diversos ao longo do processo de preparação. Até o cérebro precisa ser treinado para que um movimento mais complexo seja realizado. É o que os especialistas chamam de estímulo neural. Você precisa que seu corpo se habitue a um determinado movimento e se torne natural antes de você pensar em colocar carga em cima ou se arriscar pendurado em uma barra. O inovador corporativo não é só um ser criativo, ele precisa treinar diversas outras habilidades como negociação, empatia, apresentação e precisa ter boa fluência entre diversas disciplinas como marketing, vendas, filosofia, estratégia, psicologia, finanças, empreendedorismo, recursos humanos, operações, supply chain entre muitas outras. Assim conseguimos exercitar músculos que precisarão ser acionados quando menos esperarmos. Inovar é um exercício contínuo de aprendizado e experimentação para se identificar oportunidades e validar hipóteses. É preciso consciência e resiliência porque antes de acertar a solução perfeita, a única certeza é de que você vai errar, e muito. Então é preciso adaptar o seu neural para que esse movimento repetitivo de criar, testar, falhar e aprender se torne natural.

3. Deixe seu ego do lado de fora: para aprender e melhorar é preciso ter humildade. É natural do ser humano se comparar com as pessoas à sua volta e muitas vezes pré julgar uma pessoa pela sua aparência, pela forma como se veste, pelo seu status social, pelo cargo que ocupa, pelo seu poder econômico etc etc etc. Mas quando a gente chega em um grupo de corrida ou no box de Crossfit, você não sabe nada da outra pessoa que está ao seu lado, qual o seu histórico de vida e de treino. Cada um tem uma habilidade diferente, uma facilidade de aprender esse ou aquele movimento, então não adianta tentar se comparar. Se alguém levantou determinado peso ou conseguiu fazer um determinado tempo, não quer dizer que você também precisa fazê-lo, pois somos todos seres individuais. Eu ouço com frequência quando falo que faço Crossfit: " — Nossa! Mas Crossfit não machuca?". Não, o que machuca de fato é a pessoa tentar fazer coisas que ela não está preparada só porque viu o outro fazer e não pode "ficar para trás". Na inovação não existe verdade absoluta e ninguém possui todas as respostas a ponto de poder abrir mão da experiência de outras pessoas próximas. Inovação é inclusão, é ouvir diferentes perspectivas e tentar extrair o melhor. Em inovação hierarquia, nível social, poder econômico, formação nada disso tem relevância. Uma grande ideia pode vir de qualquer lugar e é preciso ser humilde para ouvir e aceitar opiniões.

4. Sua maior competição é com você mesmo: ser melhor do que os outros não está nas suas mãos porque você não controla o que os outros estão fazendo, como estão treinando, como se alimentam etc. Mas você pode, sim, ter controle sobre os seus atos e buscar melhorar sua habilidades a cada dia. Isso naturalmente vai fazer com que a cada corrida, a cada competição você busque entregar o melhor de si e a vitória é uma consequência disso. Se vai ser melhor do que os outros é apenas uma consequência de como você se preparou e essa não pode ser a sua motivação para continuar. No esporte você entra lá e faz o seu melhor, sempre, sem olhar para os lados para ver onde estão os demais. Em inovação esse pensamento também é válido, porque inovar é uma atividade contínua em que você busca se superar a todo momento independente do que os outros estão fazendo. Não se pode parar ou reduzir o ritmo porque você conseguiu uma dianteira em relação a outros competidores ou ficar mudando de direção em função de mudanças nas estratégias dos competidores no mercado.

5. Celebre todas as conquistas, por menor que elas pareçam: no esporte e na inovação conquistar algo é tão difícil. Apesar do esforço e entrega diária, os resultados só vem no longo prazo e são super incertos pois dependem de uma série de fatores que muitas vezes estão fora do seu controle. Quantas vezes não vimos atletas olímpicos treinarem por quatro anos inteiros esperando por aquele grande momento e acabarem fora da competição por uma lesão no primeiro minuto de prova. Por isso qualquer vitória, por menor que ela possa parecer, ela precisa ser celebrada. É importante não perder os objetivos de longo prazo de vista, mas a vida se vive hoje e ela é feita de momentos que não voltam. Tanto para o esportista quanto para o inovador, mais importante que o resultado final, o que importa de verdade é o caminho que se percorreu para chegar lá. Como disse o grande poeta brasileiro Thiago de Mello em seu poema A vida verdadeira: "Não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar"

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Jose Mello
O inovador brasileiro

Corporate innovator & Educator. Working in the crossroads of Technology, User Insights and Business Strategies to help companies thrive in the digital age.