Como me tornei um inovador corporativo?

Jose Mello
O inovador brasileiro
6 min readDec 26, 2018

--

Nunca planejei uma carreira como inovador, nem me reconhecia como tal. A revelação da minha vocação só aconteceria depois de mais de 15 anos de vida profissional

Novembro de 2006. Eu estava com 32 anos na época e vivendo uma grande crise existencial. Eu havia vivido 15 anos de inquietude à procura de respostas por algo que desse mais sentido à minha carreira e me realizasse como pessoa e profissional. Peregrinei por diversas empresas e empreendimentos em segmentos diversos, desde vender tripas para embutidos na minha adolescência em um pequeno negócio de familia no interior do Rio de janeiro, passando pela produção de shows e eventos em uma empresa que fundei com um sócio aos 17 anos de idade e que eu manteria como um negócio paralelo por mais de 7 anos, até a minha carreira formal como analista de sistemas e a paixão pela eletrônica que me levariam a ensaiar meus primeiros passos no ainda desconhecido terreno da internet em 1995. O meu ímpeto empreendedor, minha experiência com tecnologia e meus rasos, mas raros conhecimentos sobre a inóspita e inexplorada internet — na época, o Brasil tinha pouco mais de 700mil usuários — me levariam a comprar uma passagem de ônibus para São Paulo, sem volta, em 1998. De 1998 a 2004, trabalhei diversas start ups desde uma incubadora que trazia modelos de negócios baseados em internet para o Brasil e os adaptava à realidade local até uma start up financeira de um grande banco internacional que oferecia consultoria de investimentos personalizada online para clientes de alta renda. A maioria desses negócios seriam fechados ou vendidos depois do estouro da bolha da internet na bolsa americana em 2001. Em 2004, decidi reunir os conhecimentos de internet, tecnologia e mercado financeiro e criar uma consultoria junto com outros 3 sócios para ajudar bancos e seguradoras a levar seus serviços para o mundo digital. No final de 2006 vimos uma oportunidade de nos juntarmos a um grande grupo de tecnologia brasileiro. O país passava por uma grande onda de consolidações no mercado de tecnologia que culminaria com a criação de grandes grupos empresariais. Passei o ano de 2007 no processo de integração com a nova empresa e sentindo de novo aquela inquietude que havia me feito mudar para São Paulo quase 10 anos antes.

Só que dessa vez a resposta não estava lá fora em uma nova tendência ou tecnologia emergente, a resposta estava dentro de mim mesmo para uma série de perguntas e dúvidas que vinham a minha mente: Que tipo de profissional eu sou? O que eu escrevo no currículo como objetivo?Tecnologia? Marketing? Comercial? Que história eu construí até aqui? Por que fiz tudo isso? Que história quero construir daqui para frente? O que me faz feliz de verdade?

Com muitas perguntas e nenhuma resposta objetiva, passei varias semanas refletindo e elaborando o que os gurus de recolocação profissional recomendam a qualquer pessoa procurando uma nova oportunidade profissional: fazer um relato de toda a sua trajetória profissional. Assim abri um novo documento no word e comecei a preparar um relato histórico de tudo o que eu havia feito na minha vida: empresas, empregos, projetos, papéis que desempenhei, resultados alcançados, aprendizados, erros, sonhos, motivações etc. Passei quase 2 meses escrevendo, juntando os pedaços, buscando evidências dos projetos, resgatando antigas anotações, revisando datas, procurando certificados de cursos e conversando com antigos clientes, funcionários, amigos e colegas em busca de algo que me ajudasse a entender a mim mesmo.

Depois passei outros 4 meses analisando todo esse material, lendo e relendo em busca de algum padrão que me ajudasse a entender porque eu tinha feito tais escolhas e como eu havia chegado até ali, em busca de uma luz que me ajudasse a entender para onde ir. Minha análise foi reveladora sobre as capacidades que eu desenvolvi ao longo do tempo e minhas crenças sobre a forma de fazer negócios, que eu vou resumir em 3 grandes habilidades:

  1. Adaptar-se sempre: durante toda a minha vida/carreira estive em busca de fazer algo novo, algo que não havia sido feito antes. Sempre vivi no futuro, pensando no que aconteceria dali a alguns meses/anos e tentando manter-me preparado para quando aquele momento chegasse. Com isso desenvolvi um jeito próprio de aprender de forma ágil, executar com precisão, experimentar e me adaptar às situações inesperadas que o ato de empreender me impunham;
  2. Sonhar Grande: a ambição de realizar algo grandioso era outra característica comum nas minhas escolhas. Todas as oportunidades que abracei eram arriscadas, mas ao mesmo tempo muito instigantes pelo potencial de retorno e aprendizado. Ao longo dos anos descobri que a gente nunca perde: ou a gente ganha ou a gente aprende. Acho que ao longo desses primeiros 15 anos de carreira, mais aprendi do que ganhei, mas nunca parei de acreditar;
  3. Espírito Transformador: sempre carreguei o desejo de contribuir de alguma forma para que as pessoas pudessem viver melhor, de forma mais equilibrada e mais sustentável. Sempre fui inconformado com o status quo, com os modelos tradicionais e com qualquer visão de que as coisas apenas “eram assim”. Dessa forma abracei diferentes iniciativas que pudessem gerar valor para os indivíduos mas que, ao mesmo tempo, gerassem valor compartilhado para a sociedade.

Então uma palavra começou a ecoar na minha mente: INOVAÇÃO. Mas será que existe tal profissão? INOVADOR? O que essa pessoa faz? Quais as abordagens e metodologias são usadas para inovar? Será que eu sou um inovador? Assim comecei a estudar sobre o tema e a buscar formas de me conectar com o universo da inovação. Assim em 2007 fui para os Estados Unidos pela primeira vez fazer um curso sobre inovação na Columbia University e a comecei a tentar me conectar com o ecossistema de inovação no Brasil.

Daí veio meu primeiro choque de realidade! No Brasil de 2007, o ecossistema de inovação era insipiente. O mais próximo que tínhamos eram empresas que investiam em pesquisa e desenvolvimento, mas era uma inovação muito técnica e conectada ao core de algumas indústrias. Não existia até então uma visão de inovação em serviços e de novos modelos de negócios.

Percebi que a jornada seria longa e árdua, mas era disso que eu gostava: desafio! Para otimistas, como eu: — quanto maior o desafio, maior a possibilidade de retorno. Para os pessimistas: — quanto maior o desafio, maior a possibilidade de queda!

Mas descobri também que eu não estava sozinho e isso é algo fantástico no universo da inovação, você nunca está sozinho! As pessoas tem as mesmas ideias o tempo todo partindo de lugares diferentes e, colaborar, é normalmente uma melhor opção para se chegar mais longe. Como diz o velho ditado africano “sozinho se vai mais rápido, junto se vai mais longe”.

Assim abracei uma nova carreira como inovador corporativo, partindo “do zero”, tendo que retroceder alguns passos em termos de posição, status e ganhos para ter o direito de trabalhar de acordo com as minhas escolhas e minha recém descoberta vocação. Na ocasião ouvi conselhos de alguns executivos próximos que me disseram: — você está louco? Está abrindo mão de tudo o que conquistou por esse modismo de inovação? Você tinha um futuro brilhante pela frente! Boa sorte, acho que você vai precisar…

Agradeço a todos pelos conselhos que recebi. Ouvi todos sem filtros e preconceitos, ponderei os prós e contras e analisei riscos e possibilidades. No final, como bom inovador, segui algo que é difícil de explicar e que não se aprende nem nas melhores escolas de negócios do mundo: INTUIÇÃO! Algo que só a vivência e um pouco de ousadia são capazes de ensinar.

--

--

Jose Mello
O inovador brasileiro

Corporate innovator & Educator. Working in the crossroads of Technology, User Insights and Business Strategies to help companies thrive in the digital age.