Na vida nunca se perde. Ou se ganha, ou se aprende!

Jose Mello
O inovador brasileiro
4 min readMar 2, 2021

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A beleza de aprender com os erros

Normalmente só ouvimos as histórias de sucesso da inovação, sobre como lançamos um novo produto que ganhou o mercado, sobre como transformamos organizações e conquistamos prêmios, mas raramente nos permitimos refletir publicamente sobre nossas falhas ao longo desse caminho.

Essa história já tem alguns anos mas ainda vale a pena ser contada. Ela começa quando atendi o telefone; uma daquelas ligações que eu achava que já sabia o que era: provavelmente uma operadora de celular ou cartão de crédito fazendo mais uma oferta. Nem sei porque atendi, por que eu nunca atendo a números que eu não conheço. Mas naquele dia, simplesmente atendi. Do outro lado da linha uma mulher em tom polido, voz suave e firme, com aquela confiança das grandes executivas. Ali já tinha percebido que aquela não era uma ligação comum. Ela se apresentou como Ana — codinome que escolhi para preservar sua identidade —,uma uma head hunter e disse que vinha acompanhando meu trabalho e que estava trabalhando uma oportunidade que talvez me interessasse. Me convidou para um café em seu escritório na região de Pinheiros em São Paulo. Ali começaria uma nova jornada na minha carreira pela qual eu não estava esperando. Me encantei pela oportunidade apresentada por ela, aceitei seguir no processo e fui para uma entrevista com o CEO América Latina de uma grande multinacional. Ele estava em busca de um diretor de inovação para criar uma estratégia de inovação para a companhia na região, me falou sobre os grandes desafios que o mercado vinha sofrendo com as transformações recentes da sociedade e tivemos uma conversa incrível sobre como víamos o futuro e percebi que tínhamos um grande alinhamento de visões e sobre quais caminhos a empresa precisaria seguir para garantir seu sucesso no longo prazo. Não tive dúvida que aquele parecia um chamado. Depois de fechar com eles, iniciei minhas atividades uns 30 dias depois e nos primeiros 90 dias fiz o que se faz quando se chega em uma nova empresa, fui conhecer os principais stakeholders e fiz uma breve entrevista com cada um para entender a visão que cada um tinha para a companhia no futuro. Ali comecei a perceber que havia um certo desalinhamento entre a visão do CEO e a visão desses executivos sobre o momento que a empresa estava passando. O CEO falava preparar a companhia para o futuro, projetos ambiciosos para explorar novos modelos de negócios, construção de uma capacidade de inovar de forma sistêmica, todos esses objetivos muito alinhados a empresas em fase de crescimento acelerado ou de sucesso sustentado, mas conversando com meus pares, com diretores de outras unidades e com pessoas da matriz da empresa na Europa, percebi que não era bem esse o momento da empresa. Na verdade a empresa tinha sofrido um grande revés com uma mudança de mercado repentina e brutal para a qual ela não tinha se preparado e ao mesmo tempo passava por um realinhamento da estratégia global da companhia completamente diferente do caminho que a região havia seguido até ali.

Mas o CEO estava firme no seu propósito transformacional e eu acabei ignorando os sinais que recebi do restante da empresa e segui com ele numa estratégia expansionista de explorar caminhos alternativos de receita em mercados adjacentes ao core da empresa. Um caminho excelente, mas cujos resultados só aparecerão no longo prazo. Encontrar novas fontes alternativas de receita requerem muito trabalho, investimento, experimentação e paciência. Requerem times dedicados às novas linhas de negócios. Requerem investimentos hoje que só vão retornar em 3, 4 ou cinco anos. Como conseguir realizar isso em uma empresa que vinha reduzindo quadros, apertando orçamentos, disposta a cortar na carne para se readequar a uma nova realidade. O trabalho de cultura para inovação e de estratégia fluiu bem, mas tive muita dificuldade de conquistar apoiadores para meus projetos até que a liderança da região foi completamente reformulada poucos meses depois da minha chegada. Enfim, a pessoa que me levou para a companhia e única pessoa a quem o trabalho do meu time parecia interessar foi demitido sumariamente alguns meses depois da minha chegada e um novo CEO apontado para a região, mais alinhado às metas e ações que a empresa precisaria cumprir.

É fácil colocar a culpa nos outros, na empresa, no mercado. Mas refletindo com mais profundidade, o erro estava do meu lado. Mas meu erro não foi ter aceitado o desafio. Meu erro foi não ter feito um diagnóstico adequado do momento da empresa durante o processo seletivo e de não ter ouvido os sinais que eu recebi das pessoas à minha volta já nos primeiros dias de empresa. Durante os primeiros meses eu fechei os olhos para o cenário que eu via a minha volta e me fechei em uma bolha onde apenas eu e o CEO estávamos, olhando para o futuro de longo prazo da empresa, mas sem nos darmos conta de que precisávamos resolver o presente para construir a ponte para se falar sobre o futuro.

Com a saída dele, tive a oportunidade de repensar e redirecionar meu papel dentro da organização e inserir meu time em alguns projetos mais conectados ao presente da companhia como a reformulação da estratégia comercial e de relacionamento com o canal de revendedores. Tive a oportunidade também de aprender e muito sobre a dinâmica da indústria de manufatura pois eu construí minha carreira trabalhando em serviços. Pude aprender sobre os desafios logísticos de atender a um país de dimensões continentais como o Brasil e ajudar a companhia a repensar sua estratégia de distribuição em toda a região. Pude trabalhar no mercado Argentino onde o produto da empresa era sinônimo de categoria. Enfim tive a oportunidade de me conectar com pessoas incríveis, de conhecer culturas diferentes e fazer amigos que trago comigo até hoje em meu coração. Profissionais de primeiríssima linha que fazem seus trabalhos com paixão e com os quais eu aprendi o significado real da palavra resiliência.

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Jose Mello
O inovador brasileiro

Corporate innovator & Educator. Working in the crossroads of Technology, User Insights and Business Strategies to help companies thrive in the digital age.